Família Dominicana

Comentário às Leituras Dominicais (Mai. 2025) por fr. José Nunes, op

 
18 de Maio – 5º Domingo da Páscoa - Ano C

 

Paulo e Barnabé, nas suas viagens missionárias, fundaram muitas comunidades cristãs. Anunciavam Jesus e o seu Evangelho durante algum tempo, acompanhavam os que aderiam à Igreja e, antes de partirem para outra cidade deixavam a comunidade minimamente organizada, com um presbítero (ancião, pessoa madura na vida e na fé) à sua frente. O que nos lembra que as primeiras comunidades cristãs conheciam muitos ministérios e serviços para a animação e coordenação de toda a vida.

O livro do Apocalipse garante-nos que «Deus enxugará todas as lágrimas», isto é, no meio de todas as dificuldades e perseguições, Deus tem uma promessa de libertação, uma palavra de esperança. O que é bem necessário: profetas da desgraça já temos muitos… precisamos de quem nos dê esperança, de quem nos inicie e conduza à alegria!

E quanto ao evangelho de hoje, deparamo-nos com o mandamento novo, o mandamento (único) do amor. Somos desafiados a amar como Jesus amou, não de uma maneira qualquer. E Jesus amou não de forma possessiva (para controlar quem quer que fosse), não de forma egoísta (para se sentir bem), não amou para ser amado (numa espécie de comércio). Jesus amou de forma gratuita, ou seja, amou para fazer o bem ao outro, unicamente pelo bem do outro. Mas a verdade é que se vivermos nesse mesmo registo do amor, seremos felizes: o amor gratuito e oblativo/serviçal, e recíproco, é o que mais realiza o ser humano, é o que mais conduz à felicidade e gosto de viver.

14/05/2025

Artigo do fr. Bento Domingues, op


 PARA TRÁS, NÃO HÁ PAZ

   1. No coração da teologia europeia, nasceu a convicção de que tinha chegado a hora de uma transformação, no sentido de uma profunda revisão do modo de conceber a Igreja que pertencia à época “barroca”. Como Dominique Chenu, O.P., viria a afirmar, num ensaio de 1932, o Cristo da fé reconhece-se no Cristo da história. Já que a historicidade é condição da fé e da Igreja, o teólogo não tem outra expectativa senão a de reencontrar as suas fontes na História. Esta, não sendo a natureza das coisas, das formas intemporais ou das essências metafísicas, é a dos acontecimentos. Existe, por conseguinte, um desenvolvimento efectivo e não somente acessório, na inteligibilidade revelada, não certamente de um critério material de progresso indefinido, mas segundo o critério já enunciado por Tomás de Aquino, da proximidade a Cristo. Toda a atenção é, portanto, requerida para ler e distinguir os “lugares teológicos” em causa.

A “santa curiosidade” de Dominique Chenu, nos longínquos anos 30, mostrava como a expansão missionária, liberta da simbiose com o colonialismo, o pluralismo das civilizações que solicitava a criatividade da Igreja, a exigência imprescritível de recuperação da tradição oriental, a exigência ecuménica, o advento da cultura de massas que abriu possibilidades inesperadas para o cristianismo e, por fim, a nova juventude da Igreja chamada a assumir, com determinação e coragem, a sociedade humana em todas as suas dimensões[1].

No século XX, os teólogos que despertaram para o sentido da história e para a interrogação, Experiência do mundo, experiência de Deus?, foram os que influenciaram o Papa João XXIII, o Vaticano II e as dificuldades posteriores. Antes deste Papa, de Roma só vinham proibições[2]. Com Francisco, o Papa tornou-se a vanguarda da Igreja.  Não se pode entender Bergoglio sem a sua opção pelo Vaticano II e pelo estilo de João XXIII. As suas preocupações era a situação dos descartáveis da sociedade – os pobres, os prisioneiros, os migrantes, as vítimas das guerras, a sustentabilidade do Planeta, a ecologia integral, a economia que mata, a sinodalidade no interior da Igreja, chamando todo o povo de Deus a pronunciar-se.

As pessoas estavam muito inquietas sobre quem seria o novo Papa, embora este não substitua os cristãos. Como o próprio Leão XIV lembrou, convosco sou cristão, para vós sou bispo.

Não podemos fazer juízos precipitados porque não sabemos o futuro. Perante o mundo que se aproxima, Leão XIV tem de enfrentar e ajudar a enfrentar os imprevistos que podem ser muitos. A sinodalidade é, precisamente, o caminhar juntos. Nem o Papa nem a hierarquia podem substituir o povo cristão. Ninguém substitui ninguém.

2. O cardeal Robert Francis Prevost, O.S.A., escolheu para o seu pontificado o nome de uma grande personalidade que marcou a história da Igreja do século XIX, Leão XIII, o Papa da Rerum Novarum (1891), que trata da condição dos operários e das questões levantadas pela Revolução Industrial e as sociedades democráticas da época. Esta encíclica é considerada um documento fundamental para a Doutrina Social da Igreja e aborda temas como a justiça social, os direitos dos trabalhadores e o papel do Estado.

Segundo as palavras de Leão XIII, «A sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social. Efectivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito.

«Por toda a parte, os espíritos estão apreensivos e numa ansiedade expectante, o que por si só basta para mostrar quantos e quão graves interesses estão em jogo. Esta situação preocupa e põe ao mesmo tempo em exercício o génio dos doutos, a prudência dos sábios, as deliberações das reuniões populares, a perspicácia dos legisladores e os conselhos dos governantes e não há, presentemente, outra causa que impressione com tanta veemência o espírito humano» (RR, nº 1).

No primeiro discurso do Papa Leão XIV aos membros do Colégio Cardinalício, revelou a razão da escolha do nome para o seu pontificado.

Começou por dizer que o Papa é um humilde servo de Deus e dos irmãos, nada mais do que isso. «Demonstram-no bem os exemplos de tantos dos meus Predecessores, o último dos quais o próprio Papa Francisco, com o seu estilo de total dedicação ao serviço e sobriedade essencial na vida, de abandono em Deus no tempo da missão e de serena confiança no momento da partida para a Casa do Pai. Acolhamos esta preciosa herança e retomemos o caminho, animados pela mesma esperança que vem da fé.

«É o Ressuscitado, presente no meio de nós, que protege e guia a Igreja e que continua a reavivá-la na esperança, através do amor derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Cabe a cada um de nós tornarmo-nos ouvintes dóceis da sua voz e ministros fiéis dos seus desígnios de salvação, recordando que Deus gosta de se comunicar, mais do que no estrondo do trovão e do terremoto, no “murmúrio de uma brisa suave” ou, como alguns traduzem, numa leve voz de silêncio. Este é o encontro importante, a que não se pode faltar, e para o qual devemos educar e acompanhar todo o santo Povo de Deus que nos está confiado.

«(…) A este respeito, gostaria que hoje renovássemos juntos a nossa plena adesão a este caminho, que a Igreja universal percorre há décadas na esteira do Concílio Vaticano II. O Papa Francisco recordou e atualizou magistralmente os seus conteúdos na Exortação Apostólica Evangelii gaudium.

«Justamente por me sentir chamado a seguir nessa linha, pensei em adotar o nome de Leão XIV. Na verdade, são várias as razões, mas a principal é porque o Papa Leão XIII, com a histórica Encíclica Rerum novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial e, hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza de sua doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho[3]».

3. Como escreveu Guimarães Rosa, para trás, não há paz. Foram de Paz as primeiras palavras do Cardial eleito, quando apareceu na varanda, perante a grande multidão que o esperava. Hoje, dia 18 de Maio, na Praça São Pedro, Leão XIV celebra a missa de início do seu Pontificado, no qual estamos todos implicados.

  

Fr. Bento Domingues in Público, 18/5/2025   _____________ 
[1] Cf. Pedro Bacelar de Vasconcelos, Mudar o Mundo, Mudar de Vida, Edições Afrontamento, 2021 [2] Cf. Pape François. Rencontres avec Domnique Wolton: Politique et société, L’Observatoire, 2017 [3] Cf. Miguel Almeida, SJ, coord., Alegria e Misericórdia, Frente e Verbo, 2020
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